sábado, agosto 20, 2005

Urubus, cachorros e homens

Agora tem um pobre cachorro esmagado na estrada; um frágil e inofensivo urubu se prepara pra tentar morder mais um pedaço de sua carne recém-abatida por um carro construído por centenas de trabalhadores em algum lugar de São Paulo, cujo motorista, possivelmente deva ser um bom e respeitado pai de família.
O carro atinge o urubu. Nesse momento, no ônibus que eu quase dormia pela longa viagem, flagro um carro esquartejando mais uma vez um outro animal, que nada sabe e nada de tão grave fez contra coisa alguma.
Na estrada, que antes, havia restos de um cadáver, agora soma-se a esse, um novo incidente dos muitos que passam desapercebidos da maioria das pessoas, inundadas pela maratona de trabalhos e descansos que são obstinadas a não abandonar.
Cansamos de ver cenas sem explicação, coisas estranhas e uma profunda falta de respostas em situações das quais a maioria apenas inventa falsas soluções.
Morremos afogados numa simples piscina e ainda, muitos tem a arrogância de pretender atribuir a esse planeta, ou às pessoas que nele vivem, importância maior do que o primeiro grão de soja que existiu.
Com a população crescendo e desejando saber sua origem, inventaram que tudo é permitido por um único ser, que o mesmo ser controla tudo e que graças a ele e somente ele tudo acontece, tudo ocorre, tudo é por que é.
O ser que pela teoria ambiciosa dos fanáticos, criou o Sol, com seu imenso tamanho, absurda temperatura, o mesmo que teria criado, todas as milhares de galáxias, distantes milhões e milhões de anos-luz desse nada que é o Planeta Terra, para esses indivíduos, que apenas repetem e repetem o que é agradável a seus ouvidos ouvirem, esse ser grandioso, infalível e misterioso, se preocupa com as pessoas da Terra ... vejam só ... quanta preocupação de um ser tão grande, monumental e único, para um nada de poeira cósmica que somos nós.
O urubu, que esmagado nada soube nem saberá, não teve uma intervenção sequer das alturas, não teve uma única ajuda, aos mesmos peixes que nascem aos milhões, para depois serem comidos por Tubarão, por um faminto pescador de Cabo Frio ou um empresário de Recife, esses sustentam um ciclo interminável da tão aclamada "vida", que se não fosse a morte de muitos, nem existiria nada.
Esse texto não teve a intenção de ser ecológico, mas os animais pelo menos, não inventaram falsas soluções, apenas cumprem seu papel de mastigar e morrer.
Aos homens mortos, nenhuma homenagem, pois não foram capazes de reconhecer ainda sua insignificância nisso tudo.
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W.F. Júnior

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