sábado, agosto 20, 2005

A Sinceridade que é negada

Vivíamos sem paz, mas vivíamos! Há muito tempo antes de agora, quando não havia religiões ocidentais, nem orientais para ditar solenemente o que os pobres mortais podiam ou não fazer para agradar à enorme população de deuses criados pelo imaginário de seus sacerdotes, isso mesmo .. quando ainda não existiam as vaidades, os sucessores dos sucessores, esperando o próximo líder morrer, para tomar conta do rebanho, estávamos entregues ao cotidiano, talvez mais violento, talvez mais rude ... mas não era um mundo inventado, não era um meio criado para mascarar nossos erros e nossos medos.
A grande realidade que o emaranhado de religiosos e fervorosos por dogmas, regras e rituais sem praticidade, insistem em negar é que suas promessas ainda esperam por testemunhos autênticos.
Hoje sabemos que estamos sem paz, mas não estamos vivendo, estamos sendo controlados, seja por um canal que comemore 40 anos não sei de quê, seja por um conclave de velhos sem noção do mundo depois de sua janela, com ventilador importado.
Um país que se julga o mais “católico”, e que ainda descumpre a cartilha supostamente enviada por seu fundador – querem ir para o paraíso, gostam da idéia até, mas não fazem por onde – talvez pela imensa dúvida, que temem em revelar preferem mentir para os outros, entrar na “rodinha” de amigos da fé, para não acabarem sendo entregues ao vício da sinceridade, que é a total dúvida quanto a tudo ...
Uns negando a autoridade do velho lá da Europa, adotam como seu “chefe espiritual”, outros humanos, reconhecem nele, a luz revelada por uns dos deuses da humanidade, prometem cumprir a regra estabelecida por determinado deus, mas acabam caindo nos primórdios de seus ancestrais: sexo, bebedeira, violência ... mas pedem perdão, são perdoados, até por quê, se não forem perdoados, a religião inexiste como redentora dos atos considerados pecados, por isso ela sempre perdoa.
Passam-se os anos, papas, pastores, gurus e plebeus de todo credo morrem, sem deixar pistas sobre seus destinos, cabendo a cada um acreditar nas histórias contadas pelos pais de seus pais, cada país adota sua “verdade”, seu salvador, seu livro sagrado.
Promessas mirabolantes de um provável retorno, algum dia, agitam a todos que aqui na Terra sobraram, anos depois, esses que sobraram, morrem, mas deixam para seus filhos e netos a mesma semente que seus avós haviam deixado para seus pais.
A rotina mais uma vez persiste e nada podemos fazer.
A inanição cerebral por certezas, se avoluma, a esperança é cancelada a cada sepultar de um conhecido. E de novo ficamos sem ação, tudo isso é maior do que nós, não temos a coragem de dizer não a esse coquetel de mentiras, somos covardes, medrosos e omissos.
A fé se extingue. A dúvida ainda vence e somos enganados pela eterna certeza de pensar que sabemos alguma coisa.
Mas ainda não sabemos Nada.
Nada.
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W.F. Júnior

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